Dizimar é coisa de crente?
por Jorge Fernandes Isah
por Jorge Fernandes Isah
Recebi o seguinte comentário no meu blog de livros,"O que estou lendo... ou li", de um anônimo [interessante como o anonimato revela como o sujeito é indefinido, e no caso do dito cujo, também um mau leitor da Escritura [1]. O livro em questão é "Sacrifício & Domínio", do Dr. Gary North, Editora Monergismo. E vai muito além da simples discussão sobre "dinheiro" a partir dos relatos de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos.
A minha resposta encontra-se em seguida.
Anônimo: "Já percebi que falar em dinheiro na igreja causa um certo receio. Por que digo isso? Se reparar, você deu seus comentários de todos os livros que você leu dessa página do seu blog, e só faltou esta aqui. Gostaria de entender porque não deu seu comentário a respeito desse livro; é de grande importância saber o que pensa sobre o assunto nos dias de hoje, sobre os lideres de hoje, como manipulam os fiéis a doarem o que tem. Será que é medo de dizer a verdade? Omitir a verdade também é uma falta grave. Muitas igrejas cobram os dízimos dos fiéis e até ameaçam com maldições se não derem. Isso está certo? Omitir a verdade, que o dízimo não é mais obrigatório e sim ofertas voluntárias, como Paulo ensina, não é correto. Por que será que o lideres não dizem a verdade? Será por medo? Será que se falar a verdade perderão as regalias que os dízimos trazem para eles? Por isso ficam em silêncio? Não estou aqui dizendo que você dar a décima parte de tudo que você ganha é errado, e sim obrigar, ameaçar seus fieis a darem algo que simplesmente é um mandamento exclusivo para os judeus, e é um mandamento do Antigo Testamento, já que Jesus cumpriu todas as leis. Sei que não irá postar este meu comentário, mas reflita aqui o que lhe digo"[2].
Eu: Sua pressa em me julgar é maior do que o tempo que eu tenho para terminar a leitura deste livro. Como ainda estou no início, não encontrei algo que pudesse me levar a postar um comentário. Uma boa ideia seria você comprar o livro e lê-lo para inteirar-se sobre o assunto.
Nunca deixo de comentar um livro, senão, não haveria necessidade do blog, concorda? Acontece que não faço postagens sequenciais sobre todos os livros, deixando para postar um comentário ao final da leitura, uma espécie de resenha. Por estar na página 36, acho que o meu comentário demorará um pouco ainda... é que faço múltiplas leituras, trabalho, tenho as atividades familiares, a igreja, e nem sempre dá para manter o blog atualizado do jeito que gostaria; até, porque, tenho outros blogs também. Mas deixe estar que comentarei o livro por aqui, fique tranquilo.
Agora, somente um tolo dizimaria ou ofertaria por causa de ameaças, a menos que ele também tenha interesses escusos de fazer um "negocinho" ou uma negociata com Deus. Ou então, por ignorância, por completo desconhecimento da Escritura. Em todos os casos, a fala do Senhor é mais do que apropriada: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento" [Os 4.6].
O fato é que Deus não se sujeita a isso. O que ele promete, está prometido, o que não prometeu, jamais prometará. Esses egoístas e interesseiros sequer conhecem a Deus. E você espera que eu tenha pena deles? É mais ou menos como os traficantes, se não houvesse o usuário, não haveria o tráfico. Se não houvesse "cristãos" olhando apenas para os seus umbigos, e desprezando o conselho do Senhor, não haveria igrejas e pastores venais. No fim das contas, é tudo farinha do mesmo saco; tanto os líderes como os liderados. A ignorância e o descaso para com a palavra não é justificativa para inocentar ninguém; pelo contrário, ele também será julgado e condenado por sua omissão, assim como os falsos líderes e mestres serão.
Dizimamos e ofertamos porque o Senhor é aquele que nos deu e dá tudo o que temos, desde a vida até o sustento dela, sempre cuidando dos seus eleitos em amor, por sua graça. Fazemos isso por gratidão e obediência, sabendo que a obediência é também uma forma de gratidão, por tudo o que ele tem nos dado, quando mereceríamos incontinentes o inferno e nada mais. Quando as pessoas dão alguma coisa procurando obter algo em troca, zombam do Senhor, e mostram a sua verdadeira face, servindo a mamom, que não é ninguém mais nem menos do que o próprio diabo: o ladrão desde sempre [Jo 10.10] [3]. O crente não só deve, mas tem o dever de sustentar a igreja. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou em II Co 11.7-9: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas DESPOJEI eu para vos servir, recebendo delas SALÁRIO; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia SUPRIRAM a minha necessidade, e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei" [grifo meu]. Paulo reprova os coríntios por não lhe terem suprido as necessidades. E de que os Macedônios e outras igrejas o fizeram. E ainda assim, ele pregou-lhes o evangelho. Ou seja, ele cumpriu o seu chamado como ministro da palavra, enquanto a igreja de Corinto não cumpriu o seu chamado de sustentá-lo financeiramente. O mesmo Paulo disse em I Tm 5.17-18: "Os presbíteros que governam BEM sejam estimados por dignos de DUPLICADA HONRA, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: DIGNO é o obreiro do seu SALÁRIO" [grifo meu]. Se o apóstolo dos gentios não afirmou a necessidade de honrar os obreiros [presbíteros, pastores, missionários, etc com o salário, não faço a menor ideia do que ele quis dizer nesta parte da epístola.
Como pactualista, não concordo com a sua visão dispensacionalista de que o dízimo é algo circunscrito apenas à nação de Israel no A.T. Porque a Lei não tem um caráter apenas moral, de foro íntimo, mas também legal. Todos serão julgados por ela, no glorioso dia do Senhor. Se fosse assim, se houvesse uma ruptura radical ou mesmo parcial entre o AT e o NT, por que os crentes de hoje ainda cumprem os mandamentos de não mentir, furtar, matar e desobedecer aos pais? Se Cristo cumpriu toda a Lei e não é necessário que nós a cumpramos, então, tudo é-me permitido fazer, inclusive, mentir, matar, furtar, adulterar, etc. É contra esse engano que toda a Escritura, não uma parte dela, se levanta. O mesmo erro de se descontinuar os relatos testamentários, vetero e neo, foi cometido por inúmeros hereges no decorrer da história. Marcião é um exemplo. Para ele, apenas as palavras de Jesus, constando no Evangelho de Lucas, e parte do livro de Atos eram inspiradas. Da mesma forma, muitos como você pensam possível desvincular o Novo do Antigo Testamento. Então, pergunto: Com qual autoridade você foi investido para fazer isso?
Se você não está disposto a ser obediente nem grato a Deus dizimando e ofertando, o problema é seu. Nada que eu diga o demoverá dessa atitude.
Se você não confia nos líderes da sua igreja para dizimar ou ofertar, saía dela e procure uma igreja onde o dinheiro seja empregado na obra de Deus, não para o enriquecimento pessoal de ninguém.
O certo é que o padrão bíblico para o crente é dizimar e ofertar. Porém, parece-me que o autor do livro, o Dr. Gary North, está muito mais preocupado em nos revelar o caráter piedoso e fraterno da Igreja Primitiva, o qual transcende a simples discussão, quase carnal, que se desenvolve nos dias de hoje sobre a questão do dizimar ou não dizimar.
O exemplo da igreja primitiva nos leva a refletir que para nos distinguir do mundo, e para que as pessoas nos vejam como emissários de Cristo, o nosso testemunho não pode constar apenas de palavras mas também de ação; para que reconheçam-nos como sendo do Senhor, e de que as coisas velhas já passaram e tudo, realmente, se fez novidade.
A igreja primitiva demonstrou desapego ao dinheiro, de forma que se cumpriu o verso: aquele que muito tem, dele muito será exigido; e a exigência é em todos os aspectos, inclusive, financeiro. [4]
Notas:
[1] Eu mesmo me enganei por muito tempo com essa visão de que o crente neotestamentário não está obrigado a dizimar e nem mesmo ofertar, mas deve fazê-lo espontaneamente, quando quiser, tiver "sobrando" ou tiver vontade. Portanto, conheço bem o que é uma má leitura da Bíblia, pois eu mesmo a lia erradamente. Contudo, pela graça de Deus, entendo hoje que temos obrigações para com a Igreja, e Deus se agrada do servo que dá com alegria, ajudando no sustento e manutenção de sua obra aqui neste mundo.
[2] Não somente publiquei o comentário dele no meu blog de livros, como o faço, novamente, aqui.
[3] Fui alertado por um irmão que me disse: "Jo 10.10 não fala sobre o diabo, mas sobre os falsos mestres. Jesus está falando que os falsos mestres são os ladrões - 'Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram' (v.8 - ênfase minha) - e complementa dizendo: 'O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância' (v.10 - ênfase minha)". Ele está certo; porém, ainda que o nome do diabo não esteja explícito, ele está implícito, pois é o pai de todos os mentirosos, ladrões, assassinos, etc. E os seus filhos têm por objetivo satisfazer a sua vontade, ou seja, mesmo que Cristo não esteja se referindo diretamente ao diabo na passagem [e concordo que não se refere a ele, mas a todos os falsos mestres, sacerdotes e profetas que o antecederam, e mesmo os que o precederam], chamá-lo então de ladrão é pleonasmo, redundância.
[4] Em relação ao meu comentário original, fiz algumas inclusões e pequenas alterações. E no comentário do "anônimo", foram necessárias correções ortográficas para que se fizesse inteligível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário